quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"Todo tratamento psicanalítico é uma tentativa para libertar o amor recalcado." Sigmund Freud

.
.
.


Recalque: Processo de defesa do ser humano contra sentimentos que trazem algum tipo de conflito psíquico.



D.




Do que acontece - Parte I

Para todas as coisas existem um começo.
Esse texto é das coisas que não acontecem.

Medo?

De todas as coisas que aconteceram o que mais  nos chama atenção é o que não aconteceu. Não pense que é um tema forçoso, repetido, imaturo. Todos fazemos isso e depois atribuímos ao destino o fato de que quando a porta não se abre, abre-se uma janela. Bem característico de quem não soube abrir sem espiar, de quem não sabia o que ser.

Ser o quê para receber?

O que julgamos como desconhecido quase sempre é mais do que conhecido, é somente o que nos causa aversão. Nem sempre o que não aconteceu era desnecessário. Se apoiássemos sobre a mesa nossa incrível fascinação pelo controle, entenderíamos muitas coisas que necessitamos saber sobre nós. Entenderíamos que o que não aconteceu simplesmente não aconteceu porque durante mais da metade de nossos dias tentamos nos tornar outros, nos capacitar para sermos outros. A própria rejeição. Tão inconsciente... Não! Tudo consciente quando falamos do que rejeitamos. Ora, se rejeitamos foi porque fomos conscientes do que aceitamos, do que buscamos, do que pretendemos melhorar.

Passamos o dia a suprir necessidades. Motivações nada mais são do que necessidades. Ao desenvolvê-las nós deixamos de ser algo velho para ser algo novo. E naquele exato momento em que decidimos pelo novo estávamos conscientes e seguros de que, ao suprir essa necessidade, seríamos exatamente o contrário do que estávamos sendo. Ou seja, impedimos que coisas acontecessem.


D.



Continua...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Por que as flores de plástico não morrem?



Às vezes a beleza das flores não paga o preço de vê-las cair.



Ainda me lembro das flores que recebi vivas. Que descartei ainda vivas para nunca vê-las morrer. Muito além do significado que elas me traziam, havia o medo de vê-las olhando para o chão.



O vaso mais importante e mais bonito da casa foi regado em abundante água para servir à sua beleza. Pura, alimentada. Acima de tudo, reverenciá-la era nosso dever. Mas ao prendê-la, aquilo que recolhia a água era o mesmo que a permitia misturar seus fluidos esverdeados na imensidão de pureza transparente. Mas ao sugar o próprio fluido purificado, envenenava-se. Morria aos poucos. Pois era só o que tinha dentro de si.



Não se pode beber o próprio veneno encurralado durante muito tempo. Não se pode ignorá-lo, nem mergulhar fundo no seu conhecimento. Pois teu sangue sujo é assim como o sangue de qualquer outro sujo. O esclarecimento dissipa a escuridão mas abre uma nuvem negra ainda maior ao redor da luz formada. 




Pode-se ver muito mais escuridão quando se sabe onde está a luz.




Prenda-se, deixe-se prender e modificar. Depois tente chegar ao seu veneno, e irá se aventurar contra ti mesmo. No fim, estará corrompido, louco ou morto. Liberte-se. Não se deixe podar. Tente acreditar e aceitar a existência da imperfeição de seus venenos e se sentirá satisfeito em viver a paz diante de seu pequeno ponto de luz pelo resto do tempo que lhes falta.





D.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os Cristais de Tchaikovsky


O Tchaikovsky preferido.


Dizem que a confiança é como uma taça cristal. Se quebrar.... acabou.

Mas por que motivo não podemos dançar sem medo, ir e desafiar-se à andar sobre os cristais, equilibrar-se no agora de cada passo?! Extrair do medo uma felicidade tão simples, tão perpétua e doce a ponto de torná-lo indiferente?!

Pq as pessoas se fecham por querer se abrir?

...

A felicidade é o equilíbrio do medo.




D.

terça-feira, 26 de abril de 2011

..


..

Pela sede, aprende-se a água. (Emily Dickinson)


D.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Uma garrafa de vinho pela madrugada.

Bebia vinho como ao próprio sangue que jorrava da alma em palavras pela madrugada. Ato incomum, pois não bebia a alma, bebia vinho, bebia o mundo em sua taça transparente e vermelha do líquido vivo. Limpo e claro. Limpo e raro. Puro composto de experiências mundanas. Assim, era capaz de compreender as viscitudes de uma vida complexa aonde necessitaria aprender sobre seu próprio aperfeiçoamento através do seu próximo.

Se deu conta de que cada pessoa carregava em si valores e experiências que deveriam ser sustentados por sentimentos positivos, por instituições seguras. Nem sempre - ou talvez na maioria das vezes - acontecia assim entre os seus . A dor do outro era sempre maior do que a própria dor e sempre palco de platéias imensas capazes de enaltecer os sentimentos mais sórdidos em prol de beneficiar intensidades camufladas pela tristeza. Era o fardo de carregar a dor própria e engrandecê-la ainda mais ao compartilhar com a observação do outro. Ela observava o que lhes provocava a dor muito de perto e assim guardava os pensamentos certos para que sua própria dor não retornasse (uma vez que agregava a si própria a chamada experiência) e cuidava para que a dor do outro, uma vez vivenciada passivamente, jamais fosse capaz de emergir em sua própria vida, já que ela era feita de felicidade.

Os modos lhe mostraram que a intimidade das coisas supérfluas eram sempre maiores às coisas necessárias, que não provocavam alardes. O benefício do outro era justamente o alarde provocado. O mundo atual onde ela caminhava era feito de alardes, de intensidades qualquer. Porém, um mundo alarmante à dor. As conversas mais simples ouvidas dentro dos elevadores ou no caminho do trabalho eram soberanamente sobre a dor. Sobre causas, consequências e vinganças, capazes de disseminar, ao invés de experiência, ainda mais desgosto.

O mundo permanecia camuflado em cicatrizes e dores passadas. As pessoas não economizavam tentativas de suprir de esperanças vãs, ainda que a felicidade fosse descrita pela sabedoria como tão simples e diretamente ligada à felicidade plena.

Tentando consertar o passado, as pessoas permaneciam esquecidas do envolvimento com um futuro promissor. Viviam enfraquecidas pela dor do que foi vivido ao invés de se habituarem a viver as possibilidades ainda promissoras de um mundo muito melhor. Se lembravam de cicatrizes e as transferiam ao próximo como se transferissem a responsabilidade sobre sua própria felicidade à um outro ser que não fosse a si próprio.

Assim, a garota observava vidas que se escondiam em si mesmas afim de serem reconhecidas por guetos que prezavam momentos que jamais durariam os valores de uma vida inteira. Permaneciam na procura pelo todo, se desfazendo em pedaços todos os dias, em pequenos estilhaços de felicidade que rompiam a carne quando estavam sós e se projetavam diretamente ao chão de seus travesseiros confessionários, deixando lágrimas, tempestades e pequenas lembranças cuja memória curta era capaz de esquecer em instantes.

Em pouco tempo, ela observava sequelas do que haveriam de ser inicialmente motivações à favor de uma felicidade segura ir sendo drásticamente modificada pela intensidade do presente. Percebia que as pessoas fazim da felicidade sequelas do erro. Sequelas do que se tornariam ou necessitariam se tornar após um gravíssimo momento indissolúvel de estarem acompanhadas pela fantasia, de fazer durar segundos o que deveriam ser momentos eternos.

Estamos insensíveis à nós próprios. Depositamos no outro o que somos nós e esperamos que o outro reaja como nós próprios reagiríamos se estivéssemos sobriamente embriagados de nós mesmos. E se não nos reconhecemos no outro, partimos em uma busca irresponsável de "pessoas chaves" dissipando aparentes confissões e sentimentos profundos que mais são dores profundas à paixões verdadeiras. Seguimos arrastamos a dor através da troca de personagens heróicos que nos desvencilhem do passado. Acabamos continuamente trocados pela nossa dúvida e nossa fantasia, espantados com as novidades que correm ao nosso lado e não podemos abraçar. Queremos tudo e todos sem nos darmos chance de sermos inteiros e seguros para nós mesmos através de uma escolha única. Nos dizemos apegados à sentimentos mascarados pela própria cicatriz. Não somos de nós, nem de ninguém. Monstruosa e ingenuamente cruéis. Fracos. Tolos. Inconsequentes. Queremos o impossível reconhecido mérito de completarmos ao "self" e ao mundo inteiro.

Ainda assim, a vida é nossa e isso dói feito lástima sem cura. Infelizmente, não podemos submeter nossas dores à poucas reações contrárias e alheias vindas de nossas próprias mãos. À pouca vida. À pouca felicidade. Não podemos nos submeter à roda da insegurança.

Há muito para ser. 



D.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

(Des) Humanos (Não) Perecíveis


O ser humano está perecível.
A coragem já não é a mesma. É ataque, fúria. Culpa e vingança.
A inteligência tornou-se sarcasmo, ironia, prepotência.
O trabalho brincadeira, status, ego exaltado, o avesso do orgulho.
As palavras, maldições.
As ações... as ações viraram dúvidas e arrependimento.

A liberdade.
A liberdade continua aprisionando aos milhões.

Quem somos nós que já não guardamos aquela música especial para alguém especial e a distribuímos por aí por tudo que nos apaixonamos repentinamente. Pq nos apaixonamos tanto e por tudo o tempo todo hoje? Que não reconhecemos nossas próprias palavras atrás da tela do computador. Que nos satisfazemos à qualquer custo sem nos reconhecer.

Quem somos nós que nos dirigimos ao próximo obrigando retorno. Que insistimos no retorno e por isso nos tornamos agressivos com o mero intuito de quebrar o equilíbrio alheio agredindo por respostas banais. PELA RESPOSTA.... letrinhas meu bem! Não importa quais sejam!

Quem somos nós que nos orgulhamos por tudo, que perdemos a peneira dos valores e colocamos tudo o que acontece na mesma prateleira.

Vc sabe sentir? O que vc está sentindo agora? Quem é vc que se permitiu sentir isso agora. Vc sabe? Vc sabe quem é o outro à quem vc se dirige? Vc sabe o quanto enriquecedor ele é para vc? Vc tem motivos plausíveis para perturbar o equilíbrio do outro?

Sabe, observo um enorme cansaço individual gerado por ações individuais. Não sabemos mais sentir o outro. Agimos por nós, criamos expectativas por nós. Enquanto quisermos tocar o equilíbrio do outro para levar algo nosso até ele e e continuarmos a agir inteiramente por nossas próprias satisfações, seremos eternamente insatisfeitos e criaremos distúrbios desarmônicos que nos causam ira, raiva, frustração a ponto de agredí-lo.

Enquanto carregarmos feridas e complexas vivências mal resolvidas, continuaremos a apodrecer.

Precisamos ser duráveis em nossas ações e palavras, ainda que os frutos e o reconhecimento levem tempo. Em qualquer lugar, constantes.

Com a internet, nos acostumamos ao caos de informações e respostas precisas rápidas. Quando a resposta não acontece, mudamos o enunciado, quantas vezes for preciso nos perdendo no sentido inicial. Somos senhores do nosso conhecimento através do Google. Entendemos tudo e nos informamos sobre tudo em questão de segundos. Útil e só. E não deveria ser mais do que pontes. Mas esquecemos de sentir as pessoas... sentimos energia elétrica corrente, e nos esquecemos da vibração harmônica, do sangue pulsante do outro lado. Estamos perdendo a sensibilidade e isso é inaceitável. Consideração.

Robôs não são perecíveis...
Éramos, portanto, controláveis antes ou agora?
Se a liberdade de mudar sempre foi favorável... se tudo muda o tempo todo...
Qual é então o valor se não há constância?
Há parâmetro?
Há paradeiro?


p.s: o dia que criarem o Google Emocional eu me calo... Quero ver.



D.